sexta-feira, 21 de setembro de 2012

IBGE não sabe o motivo de jovens estudarem menos

Texto por Felipe WerneckEnviado por Agência Estado.

A Pes­quisa Na­ci­onal por Amostra de Do­mi­cí­lios (Pnad) re­a­li­zada em 2011 pelo Ins­ti­tuto Bra­si­leiro de Ge­o­grafia e Es­ta­tís­tica (IBGE) re­vela um au­mento na pro­porção de jo­vens que não es­tudam e não tra­ba­lham no País. Em 2009, 85,2% da po­pu­lação de 15 a 17 anos fre­quen­tava a es­cola. Dois anos de­pois, o por­cen­tual caiu para 83,7%, in­ter­rom­pendo uma ten­dência de cres­ci­mento da taxa de es­co­la­ri­zação nessa faixa etária ve­ri­fi­cada desde 2005.
O nú­mero ab­so­luto de es­tu­dantes de 15 a 17 anos man­teve-se es­tável em 8,8 mi­lhões de 2009 para 2011, apesar do au­mento da po­pu­lação nesse grupo no pe­ríodo. A ex­pli­cação para a queda da taxa de es­co­la­ri­zação entre os jo­vens não é a ida para o mer­cado de tra­balho formal, diz a ge­rente da pes­quisa, Maria Lucia Vi­eira. Se­gundo a Pnad, os jo­vens de 15 a 17 anos re­pre­sen­tavam 3,1% da po­pu­lação ocu­pada no País em 2009, par­ti­ci­pação que caiu para 2,8% em 2011, uma va­ri­ação ne­ga­tiva de 11,1%. Em termos ab­so­lutos, houve uma di­mi­nuição no pe­ríodo de 319 mil pes­soas dessa faixa etária tra­ba­lhando.
'Não con­se­guimos in­ves­tigar exa­ta­mente a causa, mas a prin­cípio eles não tra­ba­lham e não es­tudam', acres­centa Maria Lucia. Para o eco­no­mista Cláudio Moura Castro, a queda da taxa de es­co­la­ri­zação entre os jo­vens re­flete uma 'crise no en­sino médio'. 'A ma­trí­cula está caindo porque o médio é muito ruim, é chato. As pes­soas de­sa­nimam', diz ele. 'A ex­pli­cação con­sen­sual é que se trata muito mais de uma ex­pulsão do médio do que atração pelo mer­cado de tra­balho', acres­centa Castro. Se­gundo ele, es­ta­tís­ticas de censos edu­ca­ci­o­nais já in­di­cavam 'es­tag­nação e con­tração'. 'A queda não é dra­má­tica, mas a gente es­pe­raria uma ex­pansão con­tínua.'
Para Simon Schwartzman, ex-pre­si­dente do IBGE, o en­sino médio é pouco es­ti­mu­lante e a perda de alunos é con­sis­tente. Ele lembra que o aban­dono é maior entre os ho­mens. A atual pre­si­dente do IBGE, Was­mália Bivar, avalia que a po­pu­lação ado­les­cente 'ainda pre­cisa de in­cen­tivos, de po­lí­ticas mais es­pe­cí­ficas, para que a per­ma­nência na es­cola ocorra de fato'. 'Trata-se de um de­safio, de uma mu­dança quase cul­tural, para que o ado­les­cente troque a renda de hoje por uma renda me­lhor no fu­turo através da edu­cação', acres­centa Was­mália. Entre as cri­anças de 6 a 14 anos, a taxa de es­co­la­ri­zação teve um au­mento de 0,6 ponto por­cen­tual, pas­sando de 97,6% para 98,2% no mesmo pe­ríodo ana­li­sado.
Anal­fa­betos
No en­tanto, a Pnad mostra que o País ainda tem 12,9 mi­lhões de anal­fa­betos com 15 anos ou mais de idade. 'Não há cam­panha que mude os nú­meros de anal­fa­be­tismo. Quem re­solve é Deus. A queda é me­ca­ni­ca­mente pre­vi­sível. Não vai haver sur­presa', diz Moura Castro. Do total de anal­fa­betos, 8,2 mi­lhões (63%) ti­nham 50 anos ou mais em 2011. Was­mália re­co­nhece que o de­safio é grande, por causa do es­toque da po­pu­lação anal­fa­beta en­ve­lhe­cida, mas con­si­dera a queda de 1,1 ponto por­cen­tual da taxa de anal­fa­be­tismo em re­lação a 2009 'ex­pres­siva frente a mo­vi­mentos an­te­ri­ores'.
O con­tin­gente de anal­fa­betos está con­cen­trado no Nor­deste, es­pe­ci­al­mente na po­pu­lação idosa. Apesar das quedas su­ces­sivas nos úl­timos anos, a re­gião apre­sentou em 2011 uma taxa que atinge quase o dobro da média na­ci­onal (16,9%, ante 8,6%). Há 6,8 mi­lhões de anal­fa­betos no Nor­deste, mais da me­tade (52,7%) do total do País.
A Pnad também mostra que, em 2009, a rede pú­blica de en­sino foi res­pon­sável pelo aten­di­mento a 87,0% dos es­tu­dantes do nível fun­da­mental, 86,4% do nível médio e 23,3% do nível su­pe­rior. Em 2011, o por­cen­tual foi o mesmo no en­sino fun­da­mental, os­cilou para 87,2% no nível médio e subiu para 26,8% no en­sino su­pe­rior. Ou seja: apesar do au­mento nos úl­timos dois anos, a rede pri­vada atende a 73,2% dos es­tu­dantes uni­ver­si­tá­rios. Apenas 6,6 mi­lhões cur­savam o en­sino su­pe­rior no País em 2011. (Co­la­borou Fer­nando Dantas)

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